Tuesday, June 14, 2005

Onde estaremos em 2015?



FUTURO

Muito se fala do futuro da comunicação e do que representa o caráter exponencial do desenvolvimento tecnológico, a curto e a longo prazo. É interessante observar que, enquanto muitos teóricos se mostram entusiastas da integração cada vez maior entre o ser humano e a Rede – a Máquina – , a ficção científica, seja no cinema ou na literatura, quase sempre procura mostrar o lado negativo dessa evolução.

THX-1138 (1971), o primeiro filme de George Lucas, é um bom exemplo de obra que, ao mesmo tempo em que propõe uma visão apocalíptica do futuro, com ecos de George Orwell e Aldous Huxley, promove uma reflexão sobre o presente.

Em seu texto O lide do próximo milênio, Fernando Villela teoriza sobre a possível integração cérebro/máquina e a superexposição individual através da rede, e usa como exemplo de disseminação tecnológica a possível utilização de displays digitais até em banheiros públicos, colaborando para o surgimento de um “lucrativo modelo de negócio” e “contribuindo para o bem-estar social”.

A visão de George Lucas quanto a essa onipresença da informação digital é radicalmente oposta. THX retrata um mundo onde a tecnologia, a serviço de megacorporações e do próprio governo, exerce tamanho controle sobre o homem que ele próprio passa a agir como uma máquina. A desumanização é incentivada por autoridades invisíveis que fornecem sedativos, entretenimento alienante e conforto religioso (através de cabines com mensagens pré-gravadas), e o indivíduo, que já não possui nome ou identidade própria, se torna um escravo a serviço da produção mecanizada em massa.

Ainda hoje o caminho não se mostra tão claro. É possível que essa disseminação venha a trazer benefícios para uma sociedade que está aprendendo aos poucos a lidar com visões mais realistas do futuro. Mas é igualmente provável que a tecnologia se torne cada vez mais um instrumento da publicidade predatória, da desinformação, do comodismo e da alienação alicerçada no consumo desenfreado.

PRESENTE

Uma das tendências apontadas por Villela é a onipresença da internet. Significa dizer que a rede não mais está presente apenas nos computadores de mesa (desktops) domésticos, e sim vai se espalhando para outros ambientes: celulares, palmtop, geladeiras, ambientes públicos etc. Por exemplo, alguns representantes de vendas da Coca-Cola, munidos de seus computadores de mão, visitam os estabelecimentos espalhados pela capital para vender as bebidas da marca. Ao processar os pedidos, a automação permite que ele, do próprio local, dê baixa no estoque e prepara a entrega do produto.

Villela também aponta a popularização do formato MP3. Embora sejam mencionadas as “bancas digitais” para download de músicas, que ainda não são realidade, hoje o usuário pode baixar da internet, sem pagar nada, praticamente qualquer canção, e escutá-la em seu MP3 player, cuja capacidade atinge 15 mil arquivos. O principal exemplo é o iPod, da Apple, um grande sucesso de vendas em todo o mundo.

O terceiro ponto é relacionado ao “dinheiro virtual” citado por Villela. Trata-se de um cartão especialmente desenvolvido pela American Express para transações on-line, totalmente desvinculado da conta corrente tradicional para evitar fraudes (o internauta só pode fazer compras no mundo virtual). Além disso, atualmente os antigos vales-refeição foram substituídos por cartões magnéticos que são carregados por sistemas on-line; isso aconteceu também com o vale-transporte, que pode receber créditos até mesmo em bancas de jornais.

O filme THX-1138 mostra o uso da tecnologia como forma de monitorar e controlar a sociedade. Hoje, porém, isso adquiriu outra forma e outro significado: são as próprias pessoas que se expõem, com o objetivo de se auto-promover. Os dois exemplos mais elucidativos são o uso de webcams que, via internet, mostram tudo que se passa no quarto do internauta, por exemplo, e o surgimento de comunidades virtuais como Orkut ou Friendster.

Além disso, hoje verifica-se a existência de câmeras de vigilância em lugares como elevadores, bancos, shoppings, prédios residenciais e escolas, de forma a monitorar os comportamentos e detectar (para punir) eventuais desvios de conduta. Da mesma forma, observa-se o rastreamento de e-mails em empresas para que os funcionários usem a ferramenta apenas para trabalhar, o que aponta para uma sociedade cada vez mais vigiada, exatamente como sugere o filme de George Lucas ou as obras de Orwell e Huxley.