Wednesday, September 24, 2008

Minha versão para o fim do mundo

Amigo leitor, menina leitora.

Se você está lendo esse post é sinal que o mundo não acabou. E se acabou, é sinal que pelo menos esse blog e você sobreviveram. Como sei que, num possível fim do mundo, a última coisa que um sobrevivente leria é esse blog, fico feliz que estejamos todos vivos!

Se não estivermos vivos é sinal que você já está no ano de 3090, pesquisando a história trágica da economia capitalista que dizimou a vida no planeta Terra. Nesse caso, as próximas linhas interessam muito a você.

A vida no planeta Terra terminou em 2008. A última lembrança que tenho é que estava de casa nova e, umas semanas antes, tinha recebido os amigos para uma saborosa moelada (na nossa época, moela era um alimento muito em voga em bares das regiões tropicais do planeta. A moela vinha de um animal de nome galinha, usado para alimentar a população de países subdesenvolvidos. Era barata e gostosa. Muitas mulheres também recebiam o apelido de “galinhas” nessa época. Deve ser pelo mesmo motivo).

Comecei a desconfiar que o mundo estava próximo do fim um ano antes, quando o Ricardo Teixeira, presidente da CBF, chamou o Dunga para ser técnico da seleção brasileira. Alguns amigos me contestaram e até me chamaram de catastrófico e preconceituoso, só porque o novo treinador tinha nome de personagem de desenho animado – e, pior, justo um personagem que era meio retardado e mudo.

As evidências continuaram. Na mesma época, a China resolveu abrir as portas para o mundo ocidental e sediou uma edição dos Jogos Olímpicos.

Desse episódio só me lembro que uma porção de gente sem perna e sem braço faturou uma baciada de medalhas de ouro para o Brasil. A princípio, pensei que já era efeito da marola do fim do mundo. Minha mãe sempre dizia que o mundo acabaria com as pessoas derretendo como areia. “Deus sopraria sobre a Terra e os homens dissolveriam como areia!”, proclamava a mamãe. Era tipo no filme do “Homem Aranha 3”, saca?

Pois, é. A mamãe repetia apenas o que o pastor dizia na igreja. “Para quem quiser se proteger, tem que comprar uma roupa blindada na minha mão!”, proclamava o pastor, que também era dono de emissora de televisão.

Com tantos pernetas ganhando medalha, logo pensei: “Xi, começou o Apocalipse!”

Pouquíssimo dias após os Jogos Paraolímpicos (não, não, não é uma competição de bocha, aquele esporte praticado por velhinhos que já não conseguem mais andar), a imprensa começou a dizer que uma tal de LHC provocaria o fim do mundo.

Pasme: a tal engenhoca foi bolada por um sindicato de físicos lunáticos. Todos os membros eram discípulos do professor Pardal, personagem conhecido da nossa época, que ganhou notoriedade pelo mesmo criador do Dunga, um tal de Walt Disney. Pois bem, esses engenhosos senhores eram financiados por vários “Tios-Patinhas” da União Européia, que, ao contrário da “Liga da Justiça”, tinha o Nicolas Sarkozy como protagonista. A única semelhança com os heróis dos quadrinhos é que tinha a Carla Bruni, que era conhecida como a “Mulher-Maravilha”.

Bons tempos! Tempos que comer a estagiária era sinal de status e garantia a reeleição.

Bom, os discípulos do prof° Pardal queriam achar uma partícula chamada de “bóson de Higgs”. Eles diziam que o tal “bóson” era o segredo da vida e de todas as coisas da Terra. Mas o engraçado é que, anos antes, um tal de Chico Anísio – que não era físico nem nada, já tinha achado um tal de “Bozó”.

Não falei nada na época, porque o sindicato dos físicos fez um grande consórcio, como aquele do Banco Panamericano, para pagar a tal da máquina de 27 km, chamada de "Grande Colisor de Hádrons". Todo mundo dizia que era o ‘princípio do fim do mundo’, mas os sindicalistas diziam que não. Que eram altamente capacitados e que tudo era uma grande bobagem...

Só comecei ter mesmo certeza do fim quando descobri que tinha brasileiros entre os sindicalistas, candidatos a “todo-poderosos”. O Chico Buarque, grande cantor da nossa época e comedor de mulheres casadas, sugeriu uma vez a criação do Ministério do “Vai dar Merda”. O Lula, que era o nosso presidente e, coincidentemente, também foi 'sindicalista', não ouviu. Mas na hora lembrei: “Vai dar merda!”. Bingo.

A máquina enguiçou e todos pensaram que o mundo teria uma sobrevida. Entretanto, no dia seguinte, os jornais anunciavam o “Crash da Wall Street”, por conta de meia dúzia de bancos que tinham nome de cafeteria ou lanchonete fast-food: Fannie Mae, Freddie Mac e Lehman Brothers.


Na mesma época, um negão e um deficiente físico brigavam para ver quem ganhava o direito de fornicar com a estagiária no Salão Oval da Casa Branca. Casa, aliás, que era habitada até então por um cowboy canalha, que só queria saber de 'Batalha Naval' e deixou os banqueiros brincarem de mão invisível sem a supervisão de um adulto.

Daí, deu no que deu: o governo americano teve que criar o PROER yanque, para salvar bancos, mas sem a presença do Salvatore Cacciola e seu best-seller “Eu, Alberto Cacciola Confesso”. Ambos estavam presos em Bangu 8.

No início, fiquei com medo do negão ganhar aquelas eleições. Nesse tempo, todo negão tinha fama de “cagar na entrada ou na saída”, o que era de um preconceito medonho! Mas quem acabou cagando na saída foi o cowboy, que deixou um abacaxi que o deficiente e o negão não conseguiriam descascar.

No mesmo período, o Corinthians acabara de subir para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro e o presidente do clube anunciou pela trigésima vez: “Vamos ganhar a Libertadores no próximo ano!”.

Não tiveram tempo, pois um ex-governador de Pindamonhangaba assumiu o poder e transformou as transmissões futebolísticas em eventos da 'Canção Nova'. Na ocasião, os petistas saíram pelas ruas pelados, todos gritando que era o “fim do Neoliberalismo”, deixando o PSTU sem plataforma de militância e a Heloisa Helena vociferando contra o "balcão de negócios sujos" da bolsa de Nova Iorque.

Ao mesmo tempo, Fernando Henrique Cardoso, o pai do "real", foi internado num manicômio. Ele só repetia a frase “Esqueçam tudo o que eu escrevi, esqueçam todas as estatais que vendi”.

Houve uma síndrome de suicídio coletivo onde o negão, o deficiente, o cowboy e o presidente do Corinthians entraram na onda. A última lembrança que tenho é da máquina do “fim do mundo” ter voltado a funcionar, graças a um estudante de física da Unip. Foi justamente no momento em que eu terminava de escrever esta car... gvbhiasdb ´pç 8pás bvgf

Monday, September 22, 2008

GÊ-NI-O


Esse blog está em crise. Crise de identidade política. Depois de declarar apoio aberto àquela que, quem sabe, será a nova prefeita e, logo em seguida, engraçar-se com os tucanos da direita - cavando juízo e ética dentro de um furacão jamais visto no ninho das aves de bico grande, tenho que me render aos fatos: Maluf é gênio!

Muito mais que um candidato, Paulo Salim Maluf é um mito que jamais será superado.

A ficha é extensa: Ele roubou e disse que não. Assinou e negou. Tem conta em paraísos fiscais, mas diz que não. Não obstante, disse que sim: "Rouba mas faz". E mais: logo em seguida lançou livro desdizendo tudo que já desdissera antes.

Com tanto diz-não-diz, confunde a cabeça de todos e é o único político desse país capaz de enfrentar a trupe do "CQC" e do "Pânico" de igual para igual. Sem se intimidar. Sem titubear e perder o bom humor durante as piadas de duplo sentido. Faz chacota com o que desdisse e quer que provem que disse! E a tal da "freeway", com doze novas faixas sob o rio Tietê?

Incrível...

Mas gênio que é gênio sempre tem alguma nova genialidade na cartola. Em pleno "Dia mundial sem carro", enquanto todos os candidatos à Prefeitura de São Paulo debatem as soluções para o trânsito e andam de ônibus, Paulo Salim Maluf faz o que se espera de um exemplar único da raça: vai para a rua fazer CARREATA.

"Hoje é o dia internacional para deixar o automóvel em casa. Entretanto, a prática nos mostra que o automóvel é um instrumento de trabalho. Então cabe aos prefeitos terem coragem de fazer as obras de trânsito e transporte coletivo para que a cidade volte a funcionar sem os 80 km de congestionamento que tivemos hoje de amanhã", disse Maluf ao portal Terra.

Com toda moral e qualidades éticas que fazem desse homem o que ele é, o próprio desafia os adversários e aponta o dedo na ferida dos mesmos (que agem errado, logicamente!):

"Eles andam (de ônibus) hoje, quero ver se vão sair amanhã. Isso é um teatro(...) Acho que eleição não pode ser uma olimpíada em que ganha medalhada de ouro quem mente mais. Não pode mentir, só pode prometer fazer quem já fez, e a população de São Paulo sabe que eu fiz", finaliza o gênio.

Com tantas evidências, meus caros, é elementar: ELE É O CARA, ELE É O CARA, ELE É O CARA!!


Quanto vale o show?

Painel da Folha - 22/09/2008

Madonna.
Custa US$ 400 o ingresso mais barato para a palestra de Lula hoje no Council of the Americas, centro de estudos em Nova York, abrindo uma semana de debates de líderes sul-americanos.

Desconto.
O evento com o brasileiro é o mais caro. Ver Cristina Kirchner (Argentina) ou Álvaro Uribe (Colômbia) sai por US$ 250. Pechincha é a palestra de Fernando Lugo (Paraguai): US$ 150.

A pergunta que não cala é a seguinte: quanto custaria uma palestra do Evo Morales? E do ilmo. sr. presidente Ronald Venetiaan, do Suriname? De graça, né? Vale pagar com folha de coca ou garimpeiro com malária?

Saturday, September 20, 2008

Gota d’Água – Breviário


Nesta semana me surpreendi com a volta do musical “Gota d’Água – Breviário” ao circuito paulistano. Depois de uma longa, premiada e comentada temporada no teatro Fábrica, a adaptação do jovem Heron Coelho para o texto de Chico Buarque e Paulo Pontes volta à cena no Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, na Zona Oeste.

"Gota d’Água" foi escrita em 1975 e é uma adaptação musical e carioca para a tragédia grega “Medeia”, de Eurípides. Entretanto, mais que uma montagem com canções famosas da discografia buarqueana, o espetáculo dirigido por Heron Coelho e Georgette Fadel é uma das melhores peças do ano passado.

Encenado pela primeira vez em plena ditadura militar, o texto ficou marcado nos anos 70 pela atuação de Bibi Ferreira e Roberto Bonfim, que interpretavam, respectivamente, Joana e Jasão. Hoje o casal central da trama fica a cargo da própria Georgette, que em 2007 ganhou o Prêmio Shell de melhor atriz pela personagem, e do ator Cristiano Tomiossi. Passados mais de trinta anos entre as duas montagens, a tensão entre o casal permanece tão viva e real que chama atenção do público pela energia que transmite. As cenas de confronto entre Joana e Jasão são tão fortes que arrepiam.

Ao entrar no teatro, poucos se dão conta do excelente espetáculo que está por vir. A montagem paulistana é composta por um punhado de cadeiras na boca de cena, rodeadas pelo público, que, ao lado de músicos e atores, formam uma espécie de roda de samba. Os músicos estão trajados com roupas que caracterizam o Rio de Janeiro da gente simples, e revezam com alguns atores a meia-dúzia de instrumentos de percussão que compõem o “musical”.

O “esquenta” do espetáculo começa logo na entrada do público na sala. Ao final da terceira “campainha”, tem-se a impressão que os atores não agüentarão as três horas de espetáculo que seguirão, tamanho a agitação da roda de samba. Puro engano. Mesmo sendo um texto extremamente dramático, a trama é desenvolvida com tanta leveza que ao final dos 140 minutos tem-se a sensação que tudo começara há poucos segundos. Sem saída ou entrada de coxia, a trama se encerra da mesma forma como começa: samba, palmas e empolgação.

Coincidentemente, na época que “Gota d’Água – Breviário” iniciava sua escalada nos palcos da cidade, o diretor Heron Coelho estreava outro texto de Chico Buarque paralelamente. “Calabar”, escrita em parceria com Ruy Guerra, é um elogio à traição do antológico personagem da história brasileira que largou os portugueses para lutar ao lado dos holandeses na disputa pelas terras brasileiras.

Menos dramática e mais caricata, a peça é uma alegoria do patrulhamento intelectual dos militares e foi encenada por Heron no Sesc Paulista. No mesmo formato de arena que “Gota d’Água”, rodeada pelo público, a versão paulistana do texto de Chico e Guerra tinha as mesmas três horas do espetáculo-irmão, mas não o mesmo vigor e leveza.

A diferença entre as duas peças está justamente no elenco. Dias antes de assistir “Gota D’àgua”, vi uma entrevista de Gerogette na TV Cultura, que falava sobre a escolha do elenco. Segundo ela, os atores foram escolhidos pela capacidade de improvisação. Isso talvez tenha sido a diferença entre as duas encenações, deixando o elenco mais solto e trabalhando com a participação do público e os elementos musicais.

Justiça seja feita, claro que “Calabar” foi um belíssimo espetáculo. O simples fato de resgatar um texto há tanto tempo esquecido já é motivo de louvor. Junte-se a isso a genialidade de Guerra e Chico, mais as belíssimas melodias das músicas “Anna de Amsterdã” e “Bárbara”, pronto. O ingresso está pago e a satisfação garantida.

Entretanto, quem quiser ver uma adaptação que certamente marcará a história das peças de Chico deve assistir “Gota D’Água – Breviário”. O espetáculo vai até o dia 27 de Setembro e é muito bom pra alma!

Servição: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
R. Dr. Augusto de Miranda, 786 - Pompéia - Oeste. Telefone: 3803-9396
Quando?: sábados e domingos: 20h

Psiu: Aquela entrevista que falei sobre a Georgette é essa aqui abaixo. É do ano passado, no “Metrópolis”, da Tv Cultura. Vale conferir!



Thursday, September 18, 2008

Poesia a essa hora?

Valha-me Nossa Senhora, / Mãe de Deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite,/ a braba dá quando quer.
A mansa dá sossegada,/ a braba levanta o pé.
Já fui barco, fui navio,/ mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui menino,/ só me falta ser mulher.
Valha-me Nossa Senhora,/ Mãe de Deus de Nazaré.

(Ariano Suassuna, "Auto da Compadecida", pag. 144 e 145)

Monday, September 08, 2008

"Tudo sobre nossas mães" (e irmãos)

Ando meio sem tempo nos últimos dias, mas gostaria de fazer um pequeno comentário sobre o novo filme de Walter Salles, Linha de Passe. Há tempos disse nesse espaço que considero o filme Central do Brasil, do mesmo diretor, um marco do cinema nacional. Pois bem, um aspecto que me chamou atenção no novo filme de Salles é a altíssima capacidade do diretor em reproduzir o dia-a-dia dos tipos sociais brasileiros.

Já em "Central do Brasil” o diretor consegue essa façanha de reproduzir sem caricaturar as figuras brasileiras como Dora (Fernanda Montenegro), velha solitária que quer levar vantagem sob os mais humildes, escrevendo cartas na estação central de trem do Rio de Janeiro. Note que a figura de Dora teria tudo para ser a mau-caráter sem escrúpulos, cuja solidão só aumentou sua porção escura, elevando o pensamento de o que importa mesmo é se dar bem a qualquer custo. Mas não, a porção humana da mulher que quer vender o menino Josué (Vinícius Oliveira) para traficantes de crianças se sobrepõe à fácil maquiavelização da personagem. Mesmo sendo uma mulher desacreditada, aos poucos se arrepende de vender o menino e vê que o vale-tudo da sobrevivência tem limites.

O que dizer então do filme “Abril Despedaçado”(o meu preferido entre todos do diretor)? O conflito de terras e as brigas familiares no sertão do país são tão verossímeis que é impossível conter as lágrimas ao final, quando o menino dá a vida para salvar o irmão que tanto ama.

Em “Linha de Passe”, o novo de Walter Salles, por diversas me vi na pele dos personagens. Cleuza (Sandra Corveloni), a mãe dos quatro meninos, várias vezes me lembrou minha mãe, seja pelo fato de ter cada filho de um pai, seja pelo fato de descontar todo o ódio da preocupação em um de nós. Por diversas vezes apanhamos da minha mãe pelo simples fato de aliviar-lhe a dor que sentiu durante a noite passada em claro, preocupada com o paradeiro do filho. A festa surpresa na casa da família também me recordou as festas na casa de tia Marlene, que até hoje mora na Vila Missionária, na divisa entre São Paulo e Diadema. Coincidência ou não, bem próxima do bairro Cidade Líder, onde foi gravado o filme.

A autenticidade do elenco desse filme é tão grande que, por vezes, nos vemos rindo de situações que acontecem zilhões de vezes por semana na vida de quem não costuma freqüentar as salas de cinema. Lembro de uma entrevista que vi com a atriz Sandra Corveloni logo que ela soube do prêmio de melhor atriz em Cannes. Dizia ela que diversas vezes interrompeu as gravações e desejou não voltar a gravar, tamanha a carga emocional que o elenco utilizou durante a produção. Cleuza não é Sandra, assim como Sandra não é Cleuza. A diferença entre as duas é tão gritante que é possível dar vida independente à personagem, esquecendo que ela é uma atriz. Na verdade, os tipos "Cleuza" estão todos os dias nos ônibus lotados que partem das periferias para as regiões mais nobres e comerciais de São Paulo.

Vinícius Oliveira, o menino Josué de dez anos atrás, em Central do Brasil, hoje vive Dario, prestes a completar 18 anos e que sonha em se profissionalizar como jogador de futebol, única coisa que sabe fazer na vida. Numa das cenas de “Linha de Passe” ele é chamado para jogar bola no condomínio da patroa da mãe. Ali ele experimenta drogas pela primeira vez e, assim como aconteceu comigo, se sente um peixe fora d’água no meio daqueles garotos de classe média e garotas tão belas. Por vezes olhei meus amigos com a pergunta: “o que é que faço aqui?”.

Dênis, o motoboy, poderia ser meu primo, assim como Dario, o crente, meu irmão. Mesmo ao retratar o pastor evangélico, Walter Salles toma o cuidado de não cair no senso comum do aproveitador, que usa a boa-fé da gente humilde.

Coincidência ou não, assim com Sandra Corveloni, que ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes em 2008, lá em 1998, exatamente há dez anos, Fernanda Montenegro ganhava o Urso de Ouro em Berlim por sua atuação em “Central...”, além de ser indicada ao mesmo título na cerimônia do Oscar. Tudo reflexo do genuíno trabalho de Salles.

Ao comentar esse ponto de vista com um amigo, disse a ele que Salles é o Almodóvar brasileiro. Tal qual o diretor espanhol, especialista na reprodução do universo feminino, “Waltinho” (com o perdão da intimidade) é exímio em tratar de nós, brasileiros, sonhadores e sofredores.
Claro que os estilos de filmagens são bem diferentes entre os dois diretores. Almodóvar tem uma narrativa mais pulsante com roteiros e cenas que escandalizam, enquanto Salles é exatamente o oposto. Entretanto, a densidade dos personagens de ambos pulam a tela e, por pouquíssimo, pediriam ao espectador um lugar na poltrona ao lado. Cinco estrelas.

Sunday, September 07, 2008

In memoriam

Faustin von Wolffenbüttel (Fausto Wolff)
(1940-2007)

Saturday, September 06, 2008

Trilha sonora

Todo mundo tem algum sentido mais aguçado. Uns ouvem mais, uns falam aos cotovelos, outros sentem qualquer cheiro há quilômetros de distância. Há aqueles que pensam e raciocinam bastante. Ou ainda os que enxergam muitíssimo. Não por acaso, eu sinto muito. Os bestas já farão cara de idiota e dirão: “hummmm, ele sente... eu sabia!!”. Otário!

A emoção é algo que me domina no campo da fala, do pensamento, da ação ou da escuta. Ela simplesmente passa por cima de tudo, sem pedir licença, sem medir as conseqüências. Por vezes atrapalha. Digo tudo isso para justificar que, mesmo para pensar política, falar sobre ela, agir para ela, a emoção me domina. “Isso acontece com todo mundo”, disse o amigo Quero na semana passada. Pode ser. Mas não atrapalha o raciocínio, Caio!

Bom, feito o narizão de cera, vou entrar no assunto mais prático. Os jingles de campanha. Como fofoca entre jornalistas corre solta, muita gente já sabe das minhas aventuras na campanha eleitoral do Geraldo Alckmin. Pois é, só que muita gente acha que eu sou o marqueteiro da campanha e resolvo todas as questões de natureza estética e criativa da campanha. Cansei de ouvir, “Pô, meu, avisa os caras que x”, “Fala pra eles que y”. Para esses caras digo apenas “menos, bem menos”. Fato é que todo mundo tá achando a campanha de rádio e televisão do PSDB uma bosta. Eu também estou. Mas estou achando todas uma bosta. A falta de criatividade impera na campanha paulista e nem os recursos clássicos foram empregados pelos marqueteiros de campanha até agora. Parece que houve um “apagão criativo” entre todos os marqueteiros. “Como não? A campanha do Kassab está dando um show”, disse ontem um ex-chefe da rádio Eldorado. Isso é o que ele pensa. Parece que ele não anda vendo a mesma campanha eleitoral que eu.

A campanha do Kassab tem muito dinheiro. É a que mais arrecadou na cidade. Eles estavam lá embaixo nas pesquisas e agora se aproximam, de pouco em pouco, do segundo colocado, não por acaso, o candidato que é meu patrão. Ora, a estratégia de campanha dos DEMs foi a de agressão. Eles criaram uma porção de jingles cutucando a Marta e parece que estão ganhando a porção do eleitorado tucano que é anti-petista antes de ser tucana. OK. Válido. O pessoal da GW que assessora a campanha do atual prefeito tem seus méritos, já o importante é sempre arrebanhar votos. Mas você sabe cantar o jingle da campanha do Kassab? Você se emociona com alguma propaganda da Marta? Seus olhos enchem de lágrimas ao ver o programa eleitoral do PSDB ou qualquer outro partido?

Com certeza, caro leitor, a resposta é não. Não porque a campanha eleitoral é fraca. A campanha eleitoral é sofrível do ponto de vista criativo e das emoções. Qualquer campanha de tv tem que marcar, criar uma identidade como marcou a mão com as cinco proposta de FHC ou o Lulalá de 89. Quem por acaso viu a campanha presidencial de 2002 presenciou um show de campanha eleitoral por parte dos marqueteiros petistas e tucanos.

“Ah, mas na campanha presidencial a coisa é mais cara, tem mais dinheiro", você pode argumentar. Pode ser. Mas quem não se lembra da “TV Coração”, do Maluf. O jingle “São Paulo é Paulo, porque Paulo é trabalhador...”? Ou ainda do “Francisco Rossi é trabalhador, Francisco Rossi para São Paulo, sim senhor...”? Pra ir mais longe, que tal o “Varre, Varre, Vassourinha. Varre, varre a bandalheira...”, do Jânio Quadros?

Isso tudo é para exemplificar que uma campanha eleitoral também tem que jogar com a emoção. É fundamental para qualquer candidato ligar sua imagem a uma marca. Claro que o que importa é o projeto de governo, é a história política, entre outros atributos. Mas nessa eleição municipal, todos os candidatos tem os mesmos projetos: metrô, corredores, centros de saúdes, postos... já parou para comparar os projetos? Pois é, eu já e digo: diferem na forma de dizer e chamar os projetos, mudam o rótulo, mas o conteúdo é vago e parecidíssimo.

Por isso, insisto que falta criatividade para os marqueteiros. Aliás, falta criatividade para a vida política do país. Mais tarde quero escrever sobre o que acho do fim da política pós-Lula. Mas isso é para depois. Quero também dizer que todo esse blábláblá que escrevi é sobre o ponto de vista estético da campanha. Nada mais que isso. O político e ideológico não dá pra discutir em poucas linhas como essa. De qualquer forma, vamos agitar aí, marqueteiros. A coisa tá bem feia....

Para terminar, coloco três momentos de campanha eleitorais que são fundamentais: a primeira, da campanha de Lula de 2002. O menino que discursa sob o fundo preto. Me arrepio e os olhos lacrimejam até hoje de ver. É a melhor de todas as propagandas. Equipara-se ao Lulalá, em 89, com todos os artistas reunidos.. Chico Buarque, Gal Costa, José Mayer, Gilberto Gil. Todos dirigidos por Paulo Betti e Paulo José. O último, não menos belo e emocionante, é tucano. Da campanha de José Serra em 2002. Idéia de Nizan Guanaes, mago do marketing político, como Duda Mendonça. Os dois estão afastados das campanhas. Duda menos, porque age pro fora, sob a alcunha do filho, que é marqueteiro da campanha tucana em Salvador (jingle do Imbasahy tem a cara do Duda Mendonça!). De qualquer forma, essa música do Serra é das mais belas e emocionantes em termos de jingle de campanha. Mas a conclusão que tiramos disso tudo é que, no final, jingle não ganha eleição. Só serve para escrever esse monte de besteira.

Vai aí:

LULA 2006 - PROPAGANDA



LULA 89 - JINGLE



SERRA 2002 - JINGLE

Monday, September 01, 2008

"Os desafinados"


No último domingo fui ao cinema para ver o novo filme do diretor Walter Lima Jr., “Os desafinados”. Motivos não me faltavam para ver a produção: Bossa Nova, elenco de estrelas, Rio de Janeiro, Nova York. Pela sinopse do filme pensei que veria uma leitura cinematográfica de “Chega de Saudade”, ótimo de livro Rui Castro sobre a história da Bossa Nova. Me enganei. Ainda bem. Embora o filme faça várias referências a turma de João Gilberto, Tom e Vinícius, “Os desafinados” é o lado dos perdedores, dos anônimos. Como muitos por aí, que não ganharam as páginas de jornais e revistas nesses tempos de efeméride do movimento musical.

A história é a de um grupo de amigos e amantes da música, que sonham em ganhar a América em um momento que a Bossa brasileira é sucesso de público e crítica no Carnegie Hall, em New York, New York. Os músicos até chegam a fazer sucesso, que não passa do trópico do Equador e é ofuscado pelos anos de chumbo.

O diretor Walter Lima Jr recentemente fez relativo sucesso com o filme “O Engenho de Zé Lins do Rego”. Em “Os desafinados” o tom documental também pode ser percebido nas falas de alguns personagens, que tentam explicar o que é e como nasceu a Bossa Nova. Até aí tudo bem. OK. É o mal dos diretores brasileiros. As vezes esse lado histórico-didático nem é tão mal assim, já que toda comunicação de massa vislumbra a massa acrítica também. Principalmente quando tem o dedo da Globo Filmes, como é o caso. De qualquer forma, os erros de Walter Lima estão na horrosa dublagem das cantorias de Cláudia Abreu, que são de assustar e até acho que a voz que aparece durante as apresentações musicais não é da atriz. Outro problema da produção é em relação as idas e vindas cronológicas e as soluções de roteiro dadas para o cruzamento das histórias. A pior delas é o ator Rodrigo Santoro voltando no final da história como gringo, vindo da Europa num inglês sofrível, trazer notícias da mãe morta. Ora, ele nunca tinha estado antes do Rio de Janeiro, como encontraria tão facilmente o bar do Manolo e faria isso justamente numa noite em que todos “Os Desafinados” se reuniram de novo, após trinta anos? Coincidência demais. Como o tom do filme às vezes é metalingüístico, já que há a produção de dois filmes dentro do filme, seria fácil resolver esses imbrólios mais facilmente.

Mas nem só de deslizes e desafinos vive o cinema brasileiro. O filme também tem coisas muito boas. A começar pelo elenco. Ter atores tão homogêneos é algo difícil numa produção, principalmente quando ela mistura atores e cantores na mesma função. Atores que cantam, músicos que interpretam, como é o caso de Jairzinho, aquele do “Balão Mágico”. Ele é um músico de boa qualidade e também mostrou que não desafina (ai meu deus, eu tentei não usar esse trocadilho horrível e idiota de novo) na hora de se lançar frente às câmeras com texto decorado.

Claro que em matéria de interpretação, Rodrigo Santoro, Selton Mello e Cláudia Abreu são os melhores representantes que um diretor pode ter. E eles são perfeitos. Rodrigo Santoro mais ainda. O cara é simplesmente genial! (sem cantar, claro). Me emocionei bastante com “Os Desafinados”. Certamente não será sucesso de público como “Tropa de Elite”, ou “A Grande Família” ou “Se eu fosse você”. Mas o filme de Walter Lima Jr cumpre seu papel de resgate da bossa nova, que não viveu só de sucesso. Viveu também de americanos sugadores de talentos, músicos durangos e muita bebedeira. Vale o ingresso.

Endereço: http://www.osdesafinados.com.br/


O show tem que continuar

Hoje recebi a notícia do suicídio de um velho amigo. É a segunda pessoa essa semana. O terceiro conhecido em uma vida curta. Ambos enforcados. Todos depressivos, calados. Tem uma música do Lobão, “Essa noite não”, que diz;

A cidade enlouquece sonhos tortos
Na verdade nada é o que parece ser
As pessoas enlouquecem calmamente
Viciosamente, sem prazer

Toda vez que recebo notícias assim me sinto extremamente mal e não tenho como não pensar que poderia ser comigo. Os problemas do dia-a-dia, os fantasmas do passado que insistem em não desaparecer acabam conosco. Da minha parte estou cada vez mais sem palavras para dar conta das dores. Cada vez menos vale a pena narrar a dor. Dói. Por isso eu gosto de filmes. Quanto mais triste melhor. Eu vejo, choro e me renovo. A dor dos outros é a nossa dor. No fim, toda dor é dor. Independente de se chamar Rodrigo, Carlos, Júnior, Fernando... Independente de ser ou não mostrada numa tela gigante.

Vamos de música: O show tem que continuar (Fundo de Quintal)