Saturday, September 06, 2008

Trilha sonora

Todo mundo tem algum sentido mais aguçado. Uns ouvem mais, uns falam aos cotovelos, outros sentem qualquer cheiro há quilômetros de distância. Há aqueles que pensam e raciocinam bastante. Ou ainda os que enxergam muitíssimo. Não por acaso, eu sinto muito. Os bestas já farão cara de idiota e dirão: “hummmm, ele sente... eu sabia!!”. Otário!

A emoção é algo que me domina no campo da fala, do pensamento, da ação ou da escuta. Ela simplesmente passa por cima de tudo, sem pedir licença, sem medir as conseqüências. Por vezes atrapalha. Digo tudo isso para justificar que, mesmo para pensar política, falar sobre ela, agir para ela, a emoção me domina. “Isso acontece com todo mundo”, disse o amigo Quero na semana passada. Pode ser. Mas não atrapalha o raciocínio, Caio!

Bom, feito o narizão de cera, vou entrar no assunto mais prático. Os jingles de campanha. Como fofoca entre jornalistas corre solta, muita gente já sabe das minhas aventuras na campanha eleitoral do Geraldo Alckmin. Pois é, só que muita gente acha que eu sou o marqueteiro da campanha e resolvo todas as questões de natureza estética e criativa da campanha. Cansei de ouvir, “Pô, meu, avisa os caras que x”, “Fala pra eles que y”. Para esses caras digo apenas “menos, bem menos”. Fato é que todo mundo tá achando a campanha de rádio e televisão do PSDB uma bosta. Eu também estou. Mas estou achando todas uma bosta. A falta de criatividade impera na campanha paulista e nem os recursos clássicos foram empregados pelos marqueteiros de campanha até agora. Parece que houve um “apagão criativo” entre todos os marqueteiros. “Como não? A campanha do Kassab está dando um show”, disse ontem um ex-chefe da rádio Eldorado. Isso é o que ele pensa. Parece que ele não anda vendo a mesma campanha eleitoral que eu.

A campanha do Kassab tem muito dinheiro. É a que mais arrecadou na cidade. Eles estavam lá embaixo nas pesquisas e agora se aproximam, de pouco em pouco, do segundo colocado, não por acaso, o candidato que é meu patrão. Ora, a estratégia de campanha dos DEMs foi a de agressão. Eles criaram uma porção de jingles cutucando a Marta e parece que estão ganhando a porção do eleitorado tucano que é anti-petista antes de ser tucana. OK. Válido. O pessoal da GW que assessora a campanha do atual prefeito tem seus méritos, já o importante é sempre arrebanhar votos. Mas você sabe cantar o jingle da campanha do Kassab? Você se emociona com alguma propaganda da Marta? Seus olhos enchem de lágrimas ao ver o programa eleitoral do PSDB ou qualquer outro partido?

Com certeza, caro leitor, a resposta é não. Não porque a campanha eleitoral é fraca. A campanha eleitoral é sofrível do ponto de vista criativo e das emoções. Qualquer campanha de tv tem que marcar, criar uma identidade como marcou a mão com as cinco proposta de FHC ou o Lulalá de 89. Quem por acaso viu a campanha presidencial de 2002 presenciou um show de campanha eleitoral por parte dos marqueteiros petistas e tucanos.

“Ah, mas na campanha presidencial a coisa é mais cara, tem mais dinheiro", você pode argumentar. Pode ser. Mas quem não se lembra da “TV Coração”, do Maluf. O jingle “São Paulo é Paulo, porque Paulo é trabalhador...”? Ou ainda do “Francisco Rossi é trabalhador, Francisco Rossi para São Paulo, sim senhor...”? Pra ir mais longe, que tal o “Varre, Varre, Vassourinha. Varre, varre a bandalheira...”, do Jânio Quadros?

Isso tudo é para exemplificar que uma campanha eleitoral também tem que jogar com a emoção. É fundamental para qualquer candidato ligar sua imagem a uma marca. Claro que o que importa é o projeto de governo, é a história política, entre outros atributos. Mas nessa eleição municipal, todos os candidatos tem os mesmos projetos: metrô, corredores, centros de saúdes, postos... já parou para comparar os projetos? Pois é, eu já e digo: diferem na forma de dizer e chamar os projetos, mudam o rótulo, mas o conteúdo é vago e parecidíssimo.

Por isso, insisto que falta criatividade para os marqueteiros. Aliás, falta criatividade para a vida política do país. Mais tarde quero escrever sobre o que acho do fim da política pós-Lula. Mas isso é para depois. Quero também dizer que todo esse blábláblá que escrevi é sobre o ponto de vista estético da campanha. Nada mais que isso. O político e ideológico não dá pra discutir em poucas linhas como essa. De qualquer forma, vamos agitar aí, marqueteiros. A coisa tá bem feia....

Para terminar, coloco três momentos de campanha eleitorais que são fundamentais: a primeira, da campanha de Lula de 2002. O menino que discursa sob o fundo preto. Me arrepio e os olhos lacrimejam até hoje de ver. É a melhor de todas as propagandas. Equipara-se ao Lulalá, em 89, com todos os artistas reunidos.. Chico Buarque, Gal Costa, José Mayer, Gilberto Gil. Todos dirigidos por Paulo Betti e Paulo José. O último, não menos belo e emocionante, é tucano. Da campanha de José Serra em 2002. Idéia de Nizan Guanaes, mago do marketing político, como Duda Mendonça. Os dois estão afastados das campanhas. Duda menos, porque age pro fora, sob a alcunha do filho, que é marqueteiro da campanha tucana em Salvador (jingle do Imbasahy tem a cara do Duda Mendonça!). De qualquer forma, essa música do Serra é das mais belas e emocionantes em termos de jingle de campanha. Mas a conclusão que tiramos disso tudo é que, no final, jingle não ganha eleição. Só serve para escrever esse monte de besteira.

Vai aí:

LULA 2006 - PROPAGANDA



LULA 89 - JINGLE



SERRA 2002 - JINGLE

1 comment:

Anonymous said...

Esse vídeo de 2006 q vc colocou é animal do ponto de vista marqueteiro. Agora, acho que o eleitor ganha muito qto menos criatividade e ousadia tiver o marqueteiro. A decisão fica menos influenciada pelo que se ve na TV ou radio, e fica a decisao do que se viu de resultados no governo de cada um(ainda mais em SP em que todos os candidatos já tiveram cargos notorios)