Nesta semana me surpreendi com a volta do musical “Gota d’Água – Breviário” ao circuito paulistano. Depois de uma longa, premiada e comentada temporada no teatro Fábrica, a adaptação do jovem Heron Coelho para o texto de Chico Buarque e Paulo Pontes volta à cena no Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, na Zona Oeste.
"Gota d’Água" foi escrita em 1975 e é uma adaptação musical e carioca para a tragédia grega “Medeia”, de Eurípides. Entretanto, mais que uma montagem com canções famosas da discografia buarqueana, o espetáculo dirigido por Heron Coelho e Georgette Fadel é uma das melhores peças do ano passado.
Encenado pela primeira vez em plena ditadura militar, o texto ficou marcado nos anos 70 pela atuação de Bibi Ferreira e Roberto Bonfim, que interpretavam, respectivamente, Joana e Jasão. Hoje o casal central da trama fica a cargo da própria Georgette, que em 2007 ganhou o Prêmio Shell de melhor atriz pela personagem, e do ator Cristiano Tomiossi. Passados mais de trinta anos entre as duas montagens, a tensão entre o casal permanece tão viva e real que chama atenção do público pela energia que transmite. As cenas de confronto entre Joana e Jasão são tão fortes que arrepiam.
Ao entrar no teatro, poucos se dão conta do excelente espetáculo que está por vir. A montagem paulistana é composta por um punhado de cadeiras na boca de cena, rodeadas pelo público, que, ao lado de músicos e atores, formam uma espécie de roda de samba. Os músicos estão trajados com roupas que caracterizam o Rio de Janeiro da gente simples, e revezam com alguns atores a meia-dúzia de instrumentos de percussão que compõem o “musical”.
O “esquenta” do espetáculo começa logo na entrada do público na sala. Ao final da terceira “campainha”, tem-se a impressão que os atores não agüentarão as três horas de espetáculo que seguirão, tamanho a agitação da roda de samba. Puro engano. Mesmo sendo um texto extremamente dramático, a trama é desenvolvida com tanta leveza que ao final dos 140 minutos tem-se a sensação que tudo começara há poucos segundos. Sem saída ou entrada de coxia, a trama se encerra da mesma forma como começa: samba, palmas e empolgação.
Coincidentemente, na época que “Gota d’Água – Breviário” iniciava sua escalada nos palcos da cidade, o diretor Heron Coelho estreava outro texto de Chico Buarque paralelamente. “Calabar”, escrita em parceria com Ruy Guerra, é um elogio à traição do antológico personagem da história brasileira que largou os portugueses para lutar ao lado dos holandeses na disputa pelas terras brasileiras.
Menos dramática e mais caricata, a peça é uma alegoria do patrulhamento intelectual dos militares e foi encenada por Heron no Sesc Paulista. No mesmo formato de arena que “Gota d’Água”, rodeada pelo público, a versão paulistana do texto de Chico e Guerra tinha as mesmas três horas do espetáculo-irmão, mas não o mesmo vigor e leveza.
A diferença entre as duas peças está justamente no elenco. Dias antes de assistir “Gota D’àgua”, vi uma entrevista de Gerogette na TV Cultura, que falava sobre a escolha do elenco. Segundo ela, os atores foram escolhidos pela capacidade de improvisação. Isso talvez tenha sido a diferença entre as duas encenações, deixando o elenco mais solto e trabalhando com a participação do público e os elementos musicais.
Justiça seja feita, claro que “Calabar” foi um belíssimo espetáculo. O simples fato de resgatar um texto há tanto tempo esquecido já é motivo de louvor. Junte-se a isso a genialidade de Guerra e Chico, mais as belíssimas melodias das músicas “Anna de Amsterdã” e “Bárbara”, pronto. O ingresso está pago e a satisfação garantida.
Justiça seja feita, claro que “Calabar” foi um belíssimo espetáculo. O simples fato de resgatar um texto há tanto tempo esquecido já é motivo de louvor. Junte-se a isso a genialidade de Guerra e Chico, mais as belíssimas melodias das músicas “Anna de Amsterdã” e “Bárbara”, pronto. O ingresso está pago e a satisfação garantida.
Entretanto, quem quiser ver uma adaptação que certamente marcará a história das peças de Chico deve assistir “Gota D’Água – Breviário”. O espetáculo vai até o dia 27 de Setembro e é muito bom pra alma!
Servição: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
R. Dr. Augusto de Miranda, 786 - Pompéia - Oeste. Telefone: 3803-9396
Servição: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
R. Dr. Augusto de Miranda, 786 - Pompéia - Oeste. Telefone: 3803-9396
Quando?: sábados e domingos: 20h
Psiu: Aquela entrevista que falei sobre a Georgette é essa aqui abaixo. É do ano passado, no “Metrópolis”, da Tv Cultura. Vale conferir!
Psiu: Aquela entrevista que falei sobre a Georgette é essa aqui abaixo. É do ano passado, no “Metrópolis”, da Tv Cultura. Vale conferir!
1 comment:
Se você for assistir de novo, me chama. Foi a peça que mais gostei de assistir até hoje.
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