Tuesday, September 20, 2005

The Big Picture


A utilização de linguagens diversificadas na internet está cada vez mais presente. A convergência entre imagens, vídeo, fotos, áudio e texto permite a união de formas de comunicação distintas em um único espaço, ampliando o leque de informações oferecidas.

O mega-portal norte-americano MSNBC é um dos que utiliza esse cruzamento de linguagens para produzir reportagens especiais, chamadas de “The Big Picture”, uma fusão de live-streaming, texto e interatividade apresentada como se fosse um programa de TV “vitaminado”.

A reportagem analisada trata do Oscar 2005. Divida em 6 blocos, ela permite que eles sejam acessados independentemente, ou vistos de uma só vez em ordem pré-estabelecida. Ao clicar no botão “play all”, o usuário vê sua tela ser dividida em diversos campos, num dos quais fica a âncora do programa. No campo maior, é apresentada a reportagem audiovisual, e logo abaixo surgem informações e links em textos relacionados aos assuntos da matéria. Do lado esquerdo, o usuário pode deixar seus comentários sobre os assuntos propostos.

Cada segmento traz, além de informação e entrevistas, espécies de jogos interativos, como um em que o usuário cria sua própria cinebiografia, selecionando atriz principal e diretor e apresentando sua proposta ao estúdio, ou outro em que ele pode avaliar os melhores e piores vestidos da cerimônia. Entre um segmento e outro, a âncora diz que eles precisam “pagar as contas”, e tem início um breve comercial dos patrocinadores.

Recursos como o “The Big Picture” são reflexo, acima de tudo, da popularização da internet de banda-larga. Pesquisas indicam que a porcentagem de usuários que dispõem de conexão de alta velocidade em casa ou no trabalho, nos EUA, já alcança os 55%.

Do ponto de vista da produção de conteúdo, a novidade é dos melhores exemplos de como utilizar tantos recursos de modo a não transformá-los em simples enfeites. Desde a pauta até a formatação final, a reportagem é pensada de modo a conquistar e, principalmente, manter a atenção do internauta. O resultado é informação ágil, sedutora e atraente, sem perder a relevância. Exceto pela parte de dar nota para o vestido das atrizes, talvez... :P

Desvirtual

O site Desvirtual, projeto da artista de web e professora da PUC Gisele Builgueman, é descrito perfeitamente pela expressão "less is more", em português "menos é mais". Nada de figuras, animações ou qualquer tipo de efeito: apenas o texto do link, claro e direto. Aliás, o próprio nome já diz respeito a uma desconstrução, seja no que se refere às palavras ou mesmo ao próprio sentido das coisas.

Bem ilustrativo é o trabalho "esc for escape", nas palavras dela mesma "um projeto sobre o mundo das mensagens de erro". Tratam-se, principalmente, das angústias nestes dias dominados pela tecnologia. Computadores, celulares, caixas eletrônicos, DVD players... todos sujeitos a problemas de operação, ou melhor, a falhas na comunicação com os usuários. A imagem da mulher assustada que antecede as mensagens é perfeita. É como se fosse um grito de "chega!" ou "não agüento mais".

Esse não é um assunto novo, mas a abordagem de um tema tão banal como sendo arte é inovadora, e se tornou famosa por isso. A pop art, por exemplo, deu origem ao trabalho "wop art", a junção entre web e pop para apresentar uma nova arte, que no caso consiste em uma animação simples, em preto e branco, de vários pixels em movimentos circulares, ou "Paisagem0", que preenche a tela branca com uma única frase.

A navegação, à primeira vista, parece simples. Entretanto, as páginas não seguem um modelo, o que faz com que a usabilidade do site seja um tanto complicada. Aqui se tem a subversão de quase tudo, e isso faz todo o sentido: a artista segue, mais uma vez, o desmonte do virtual, ou, ainda, cria o "desvirtual".

Sempre bom

Links para dados sobre internet e jornalismo online:
http://www.jupitermedia.com/
http://www.ojr.org/
http://www.pewinternet.org/

Tuesday, June 14, 2005

Onde estaremos em 2015?



FUTURO

Muito se fala do futuro da comunicação e do que representa o caráter exponencial do desenvolvimento tecnológico, a curto e a longo prazo. É interessante observar que, enquanto muitos teóricos se mostram entusiastas da integração cada vez maior entre o ser humano e a Rede – a Máquina – , a ficção científica, seja no cinema ou na literatura, quase sempre procura mostrar o lado negativo dessa evolução.

THX-1138 (1971), o primeiro filme de George Lucas, é um bom exemplo de obra que, ao mesmo tempo em que propõe uma visão apocalíptica do futuro, com ecos de George Orwell e Aldous Huxley, promove uma reflexão sobre o presente.

Em seu texto O lide do próximo milênio, Fernando Villela teoriza sobre a possível integração cérebro/máquina e a superexposição individual através da rede, e usa como exemplo de disseminação tecnológica a possível utilização de displays digitais até em banheiros públicos, colaborando para o surgimento de um “lucrativo modelo de negócio” e “contribuindo para o bem-estar social”.

A visão de George Lucas quanto a essa onipresença da informação digital é radicalmente oposta. THX retrata um mundo onde a tecnologia, a serviço de megacorporações e do próprio governo, exerce tamanho controle sobre o homem que ele próprio passa a agir como uma máquina. A desumanização é incentivada por autoridades invisíveis que fornecem sedativos, entretenimento alienante e conforto religioso (através de cabines com mensagens pré-gravadas), e o indivíduo, que já não possui nome ou identidade própria, se torna um escravo a serviço da produção mecanizada em massa.

Ainda hoje o caminho não se mostra tão claro. É possível que essa disseminação venha a trazer benefícios para uma sociedade que está aprendendo aos poucos a lidar com visões mais realistas do futuro. Mas é igualmente provável que a tecnologia se torne cada vez mais um instrumento da publicidade predatória, da desinformação, do comodismo e da alienação alicerçada no consumo desenfreado.

PRESENTE

Uma das tendências apontadas por Villela é a onipresença da internet. Significa dizer que a rede não mais está presente apenas nos computadores de mesa (desktops) domésticos, e sim vai se espalhando para outros ambientes: celulares, palmtop, geladeiras, ambientes públicos etc. Por exemplo, alguns representantes de vendas da Coca-Cola, munidos de seus computadores de mão, visitam os estabelecimentos espalhados pela capital para vender as bebidas da marca. Ao processar os pedidos, a automação permite que ele, do próprio local, dê baixa no estoque e prepara a entrega do produto.

Villela também aponta a popularização do formato MP3. Embora sejam mencionadas as “bancas digitais” para download de músicas, que ainda não são realidade, hoje o usuário pode baixar da internet, sem pagar nada, praticamente qualquer canção, e escutá-la em seu MP3 player, cuja capacidade atinge 15 mil arquivos. O principal exemplo é o iPod, da Apple, um grande sucesso de vendas em todo o mundo.

O terceiro ponto é relacionado ao “dinheiro virtual” citado por Villela. Trata-se de um cartão especialmente desenvolvido pela American Express para transações on-line, totalmente desvinculado da conta corrente tradicional para evitar fraudes (o internauta só pode fazer compras no mundo virtual). Além disso, atualmente os antigos vales-refeição foram substituídos por cartões magnéticos que são carregados por sistemas on-line; isso aconteceu também com o vale-transporte, que pode receber créditos até mesmo em bancas de jornais.

O filme THX-1138 mostra o uso da tecnologia como forma de monitorar e controlar a sociedade. Hoje, porém, isso adquiriu outra forma e outro significado: são as próprias pessoas que se expõem, com o objetivo de se auto-promover. Os dois exemplos mais elucidativos são o uso de webcams que, via internet, mostram tudo que se passa no quarto do internauta, por exemplo, e o surgimento de comunidades virtuais como Orkut ou Friendster.

Além disso, hoje verifica-se a existência de câmeras de vigilância em lugares como elevadores, bancos, shoppings, prédios residenciais e escolas, de forma a monitorar os comportamentos e detectar (para punir) eventuais desvios de conduta. Da mesma forma, observa-se o rastreamento de e-mails em empresas para que os funcionários usem a ferramenta apenas para trabalhar, o que aponta para uma sociedade cada vez mais vigiada, exatamente como sugere o filme de George Lucas ou as obras de Orwell e Huxley.

Monday, May 23, 2005

Análise de sites segundo o texto "O lide do próximo milênio"

1. Leveza
Folha Online


Um bom exemplo de site cuja principal característica é a leveza, ou seja, preocupado com a absorção da mensagem pelo internauta, é a Folha Online, jornal em tempo real diferente da edição impressa da Folha de S.Paulo.

Logo na home-page já é possível perceber um esquema organizacional simples: a manchete está no alto, geralmente acompanhada de foto. Há apenas uma coluna de texto e pouca propaganda. Do lado esquerdo fica o menu, por meio do qual é possível acessar as editorias, que são as mesmas encontradas na FSP.

O visual é limpo e claro, amigável até mesmo ao internauta iniciante. As notícias, logicamente, são organizadas de forma hierárquica: as mais importantes estão no alto da página; as demais, inclusive as mais antigas, estão dispostas entre o meio e o fim da página. É importante ressaltar que a Folha Online geralmente não é um site com muitas atualizações diárias. Há dias em que são publicadas apenas 10 ou 15 notícias na seção Cotidiano, por exemplo.
A navegação, fácil e intuitiva, permite encontrar facilmente uma notícia depois de poucos cliques, ou mesmo após utilizar o sistema de busca. Os textos, em sua grande maioria, são curtos e escritos em linguagem acessível e com fontes grandes, o que agiliza a leitura.

2. Rapidez

Terra

O portal apresenta na seção Últimas Notícias notas com os principais acontecimentos do dia. De minuto em minuto, o site, além de atualizar as informações já postadas, é alimentado com novas notícias.

Esse trabalho é praticamente realizado em tempo real, tanto que é comum encontrar no mesmo minuto mais de uma notícia.

Às 12h57 do dia 20 de maio, por exemplo, exibia-se ao mesmo tempo duas manchetes: “Bush pode vetar leis sobre células-tronco” e “Nintendo dará detalhes sobre Revolution até o final do ano”.

A cobertura em tempo real só é possível devido à velocidade, a instantaneidade e ausência de limites físicos de espaço.

É interessante perceber que esse grande volume de informações serve de referência para os outros meios de comunicação. Muitas pautas de matérias surgem por meio da cobertura produzida por sites como o Terra ou seções de notícias em geral na web.

3. Exatidão
Último Segundo

O site Último Segundo tem como objetivo comunicar notícias através de informações enxutas, precisas e concisas, tendo como foco ir direto ao ponto, ou seja, transmitir ao leitor o que realmente precisa ser comunicado, o que considera ser importante para entender o assunto.

Os textos apresentados são curtos, sem excesso de dados desnecessários e adjetivos. Já os títulos, subtítulos e lides resumem a notícia, sempre de forma direta, consistente e com impacto no leitor.

As informações são divididas em seções para facilitar a navegação, de forma que o internauta encontre o que procura sem dispersão. Nas divisões nos deparamos com links que complementam o que pesquisamos.

No entanto, nem sempre o site consegue evitar os ruídos que podem distrair o leitor. Um exemplo é a notícia veiculada no dia 17 de maio, sobre a cantora Kylie Minogue. A cantora pop australiana anunciou que está com câncer de mama, e um link na página principal levava o internauta a todas as informações sobre o caso e, bem abaixo, depois de uma notícia não relacionada, estava um outro link com fotos da cantora.

Outro exemplo é do dia 20 de maio, em que uma foto de Saddam Hussein de cueca esteve em evidência na página inicial do portal, mas a chamada logo acima da foto não tem estebeleceu relação com a foto, noticiando fatos sobre a Amazônia e confundindo o leitor.

4. Visibilidade / 6. Consistência
No Mínimo

O site No Mínimo, primogênito do antigo No Ponto, é um exemplo de visibilidade e de boa exposição e qualidade das informações. Conhecido por seu excelente time de colunistas, que inclui Zuenir Ventura, Arthur Dapieve, Ricardo Kotscho, Augusto Nunes, Tutty Vasques, para não citar outros tantos, o leitor que procura por uma coluna específica pode achá-la de forma simples, bastando apenas clicar no nome do cronista localizado no lado esquerdo da tela, na cor cinza.

O site também pode ser classificado como leve, pois o tipo de fonte que é usada, facilita a leitura e, sem muitos banners, pop-up, e anúncios de casas de eletrodomésticos e livrarias, que pulam na sua cara a cada novo click, o “Nomínimo” é exemplo de conteúdo consistente e analítico. Justamente por isso, aquele internauta mais avoado, que está acostumado com a concisão das notícias do IG ou do Terra, com a superficialidade das notícias do “Babado.com”, certamente não se habituarão às densas análises de Ricardo Setti e às bem humoradas histórias de Zuenir Ventura e sua gangue.

Para esse tipo de leitor, o “Nomínimo” oferece as curtas notas do humorista Tutty Vasques. Além disso, se o mesmo leitor não tiver disposição e fôlego para ler a coluna de determinado fulano, em um determinado momento, em todas as páginas existe um mecanismo intitulado “enviar”, que ele pode enviar o conteúdo para si mesmo, ou para um amigo, exatamente como previu o jornalista Fernando Villela no texto “O lide do próximo milênio”, objeto de apoio para essa análise.

Esse mecanismo está localizado sempre abaixo da assinatura de cada cronista, ao lado do link para a opção imprimir, na canto superior direito da página. Aliás, como também disse Villela, o “Nomínimo” pode criar uma extensão para o mundo real e, através da opção imprimir, materializar-se numa folha de sulfite, tornando-se portátil.

No mesmo canto superior da tela, à direita, é possível verificar o histórico das crônicas escritas pelo autor nas semanas anteriores, numa espécie de banco de dados. Além disso, o site também oferece a opção de “assinatura”, ou seja, o usuário se cadastra e recebe as colunas no seu e-mail, sempre que elas forem atualizadas durante a semana.

Outros pontos fortes desse site são o sistema de busca e galeria de imagens, as reportagens, link para blogs conhecidos e, ponto principal de qualquer portal de discussões intelectuais, oportunidade para debate de leitores e opinião no “fala leitor”.

Com tudo isso, o “Nomínimo” se destaca como página de idéias. Feito para aqueles que gostam da leitura de jornais e, ao longo do dia, gostam também de beliscar e saborear novas idéias sobre tudo, desde música até as últimas mancadas dadas pelos nossos governantes, através da Internet - prova de que é possível investir em conteúdo diferenciado, consistente e bem organizado.


5. Multiplicidade
Gamespot

Considerado por muitos o melhor website especializado em games do mundo, o GameSpot leva às últimas conseqüências os conceitos de interatividade e multiplicidade, e é um bom exemplo de veículo de interesse específico ricamente elaborado.

Tendo seu conteúdo dividido entre cada console, possibilitando ao usuário filtrar a informação que lhe interessa pelos sistemas que possui, o site não se limita apenas a dar a notícia ou avaliar extensamente um jogo, mas traz também trailers, reportagens e até mini-documentários em vídeo, além de trabalhar com animações em flash, clipes de som e muitas imagens.


Associando-se ao GameSpot (por uma taxa mensal), o usuário tem acesso a diversos ‘upgrades’, entre eles uma ferramenta com a qual ele pode enviar suas próprias análises de jogos. Já o fórum do site movimenta um número impressionante de usuários (nas horas visitadas o site tinha mais de 5 mil associados online), e é dividido em incontáveis comunidades e tópicos interativos, sendo que cada notícia ou novo jogo publicado no site tem um link para um tópico de discussão.


Outro recurso que chama a atenção são os chamados “unions”, espécies de blog-zines coletivos criados, atualizados e administrados por grupos de usuários, porém hospedados pelo GameSpot, que concede níveis e selos de qualidade aos mesmos. Existem milhares deles, relacionados a um ou mais jogos, ou mesmo a determinados consoles, empresas, personagens e até softhouses (desenvolvedoras de games).

Tuesday, May 10, 2005

O caso Grafite

A acusação de racismo feita pelo jogador são-paulino Grafite contra o argentino Desábato, no jogo entre São Paulo e Quilmes (ARG), válido pela Copa Libertadores 2005, mostrou mais uma vez o poder da imprensa. As interpretações, descabidas em alguns casos, e o sensacionalismo foram as marcas da cobertura dos principais veículos do Brasil.

A partida foi transmitida pela TV Globo. Aos 45 minutos, Grafite se envolveu numa disputa de bola com o atleta Arano. Desábato aproximou-se e disse palavras no ouvido de Grafite. Arano e Grafite foram expulsos. Galvão Bueno, narrador da partida, chamou a atenção do telespectador para o que havia dito Desábato: negro de merda. Ao final da partida, com vitória do São Paulo por 3 a 1, o advogado do clube brasileiro entrou em campo e deu voz de prisão ao argentino.

Começava assim um verdadeiro frenesi nas principais redações do país. Os repórteres da TV Globo, que detêm direito de transmissão exclusiva da competição, entraram ‘ao vivo’ desde o estádio do Morumbi tanto no Jornal da Globo quanto no jornalístico Sportv News, do canal fechado Sportv da Globosat. Emissoras sem imagens da partida, como a ESPN-Brasil, entravam por telefone no noticiário Sportscenter.
A TV Record, por exemplo, que preparava o noturno Edição de Notícias, teve como base para sua cobertura inicial as informações dos portais UOL-Esporte, Pelénet, Terra-Esportes, Lancenet e Gazetaesportivanet, já que não houve tempo para preparar um link (entrada ao vivo de um repórter) desde o Morumbi. No dia seguinte, porém, o programa Debate Bola, do apresentador Milton Neves, considerado um polêmico jornalista no meio esportivo, discutiu durante uma hora o caso Grafite. Abusando de sensacionalismo e incitando a rivalidade entre Brasil e Argentina, a atração, exibida das 12h15 às 13h15, conquistou a terceira colocação na audiência medida pelo IBOPE com 8 pontos de média e 10 de pico.

Já os principais jornais deram maior espaço ao caso apenas dois dias depois, 15 de abril. Isso se explica pelo fato de a partida ter se encerrado por volta da meia-noite da quarta, 13. O Estado de S. Paulo dedicou praticamente todo o seu caderno de Esportes da sexta,15, para tratar o assunto. Lembrou que atos racistas já vêm acontecendo na Europa e destacou a nota oficial do governo por meio de Agnelo Queiroz, Ministro dos Esportes. Em um espaço menor, a Folha de S.Paulo também deu importância ao fato, trazendo uma coluna do ex-jogador Tostão, colaborador do jornal.
O assunto foi abordado por diversas publicações internacionais. As e Marca, da Espanha, Clarín e Olé!, da Argentina, La Gazzetta dello Sport, da Itália, A Bola, de Portugal, e The New York Times, dos Estados Unidos.

Monday, April 11, 2005

Estadão Digital

O Estadão está mudando – outra vez. A estréia do
Estado de S. Paulo Edição Digital marca não só o término do projeto de reformulação
gráfica e editorial de um dos maiores jornais do país,
mas talvez uma nova fase na mídia online brasileira,
seguindo uma tendência mundial de integração de
periódicos com a rede mundial.

A Edição Digital, assim como a versão anterior,
funciona de maneira independente do portal
estadão.com.br, e possibilita aos internautas uma nova
maneira de usufruir de um jornal diário: a assinatura
online. Por enquanto, esta está disponível
gratuitamente por um período de 30 dias e, após esse
período, o assinante passa a desembolsar R$ 43,90 por
mês para ter acesso ao conteúdo online (em oposição
aos R$ 66 mensais relativos ao preço de banca).

A novidade é amplamente divulgada na home page do
jornal, com uma introdução ao conceito da Edição
Digital, um tutorial em flash explicando
detalhadamente a navegação, uma boa seção “ajuda” e um
aviso aos assinantes da edição impressa, que têm
direito a uma “senha CORTESIA” (assim mesmo, em
maiúsculas) para acessar a versão online.

O conteúdo é exatamente o mesmo da edição de bancas,
acrescentado da seção “Extra Online”, que traz álbuns
de fotos não-publicadas, entrevistas na íntegra e
outros recursos exclusivos. Outro diferencial são os
sistemas de arquivo e busca. O primeiro armazena para
consulta integral as últimas 30 edições online, e o
segunda permite uma busca detalhada nas mesmas, mas
ainda está em fase de implantação. O sistema de busca
do portal Estadão, porém, abrange o conteúdo do jornal
desde 1995, o que só fica claro após uma leitura da
seção de ajuda.

Navegação e interatividade

A navegação é claramente o ponto mais forte da Edição
Digital do jornal, e provavelmente o aspecto
desenvolvido com maior cuidado na criação do site, à
medida em que oferece uma interface simples e
visualmente agradável, mas ao mesmo tempo bastante
completa, integrando a versão de papel com a online de
uma maneira bastante satisfatória.

A navegação principal se dá através de uma barra de
links vertical do lado esquerdo da tela, pelo qual o
usuário pode acessar cada caderno do jornal e suas
respectivas seções. Após clicar em um dos cadernos, a
versão escaneada da primeira página do mesmo aparece,
e ao lado uma lista de manchetes daquela página. Cada
notícia da página escaneada é clicável e pode ser
aberta na área antes reservada às manchetes, para uma
leitura mais cômoda.

Essa área à direita da imagem também pode ser usada
para exibir uma lista completa das manchetes daquela
edição, bem como para filtrar o que há de interesse
entre os textos de cada caderno, recursos que num
primeiro contato podem parecer um pouco confusos e
difíceis de acessar, mas que se mostram bastante
úteis.

Outros recursos incluem o acesso direto a qualquer
página do jornal através de menus do tipo “caixa de
listagem”, bem como o de “virar” as páginas através de
setas, aumentar ou diminuir a fonte de cada notícia e
visualizar a edição em páginas duplas, como na versão
impressa. Como se não fosse o suficiente, é possível
abrir cada uma das páginas em formato PDF e salvá-las
no computador.

A navegação da página de conteúdo extra, em
contrapartida, é bastante diferenciada: a seção
funciona como uma espécie de primeira página dinâmica,
trazendo hiperlinks para as principais matérias e
colunas, além de números, trívia e outras pequenas
seções clicáveis bem interessantes e informais.

Alguns pontos negativos são a lentidão do site numa
conexão discada (uma conexão banda-larga é altamente
recomendável) e problemas de compatibilidade – a seção
Extra Online, por exemplo, não funcionou na versão do
Netscape usada para teste (7.2), mas pôde ser aberta
normalmente no Internet Explorer. O site não se
comporta muito bem numa resolução de 800x600, sendo
recomendável o uso da definição 1200x768 (e, mesmo
assim, com o navegador ajustado para tela-cheia).

A interatividade é outro aspecto fraco: as maneiras de
o leitor participar e opinar sobre o conteúdo não
aproveitaram a mudança de formato e mantêm-se, por
enquanto, idênticas às da versão impressa: mande um
e-mail, escreva uma carta. Não há uma versão online em
tempo real do “fórum dos leitores”, por exemplo, ou
algo como um “blog do ombudsman”, alguns exemplos de
formatos interativos que poderiam ser atraentes tanto
para o público que já assina o jornal como para o que
o Estado pretende atrair com a inauguração da Edição
Digital.