Tuesday, May 10, 2005

O caso Grafite

A acusação de racismo feita pelo jogador são-paulino Grafite contra o argentino Desábato, no jogo entre São Paulo e Quilmes (ARG), válido pela Copa Libertadores 2005, mostrou mais uma vez o poder da imprensa. As interpretações, descabidas em alguns casos, e o sensacionalismo foram as marcas da cobertura dos principais veículos do Brasil.

A partida foi transmitida pela TV Globo. Aos 45 minutos, Grafite se envolveu numa disputa de bola com o atleta Arano. Desábato aproximou-se e disse palavras no ouvido de Grafite. Arano e Grafite foram expulsos. Galvão Bueno, narrador da partida, chamou a atenção do telespectador para o que havia dito Desábato: negro de merda. Ao final da partida, com vitória do São Paulo por 3 a 1, o advogado do clube brasileiro entrou em campo e deu voz de prisão ao argentino.

Começava assim um verdadeiro frenesi nas principais redações do país. Os repórteres da TV Globo, que detêm direito de transmissão exclusiva da competição, entraram ‘ao vivo’ desde o estádio do Morumbi tanto no Jornal da Globo quanto no jornalístico Sportv News, do canal fechado Sportv da Globosat. Emissoras sem imagens da partida, como a ESPN-Brasil, entravam por telefone no noticiário Sportscenter.
A TV Record, por exemplo, que preparava o noturno Edição de Notícias, teve como base para sua cobertura inicial as informações dos portais UOL-Esporte, Pelénet, Terra-Esportes, Lancenet e Gazetaesportivanet, já que não houve tempo para preparar um link (entrada ao vivo de um repórter) desde o Morumbi. No dia seguinte, porém, o programa Debate Bola, do apresentador Milton Neves, considerado um polêmico jornalista no meio esportivo, discutiu durante uma hora o caso Grafite. Abusando de sensacionalismo e incitando a rivalidade entre Brasil e Argentina, a atração, exibida das 12h15 às 13h15, conquistou a terceira colocação na audiência medida pelo IBOPE com 8 pontos de média e 10 de pico.

Já os principais jornais deram maior espaço ao caso apenas dois dias depois, 15 de abril. Isso se explica pelo fato de a partida ter se encerrado por volta da meia-noite da quarta, 13. O Estado de S. Paulo dedicou praticamente todo o seu caderno de Esportes da sexta,15, para tratar o assunto. Lembrou que atos racistas já vêm acontecendo na Europa e destacou a nota oficial do governo por meio de Agnelo Queiroz, Ministro dos Esportes. Em um espaço menor, a Folha de S.Paulo também deu importância ao fato, trazendo uma coluna do ex-jogador Tostão, colaborador do jornal.
O assunto foi abordado por diversas publicações internacionais. As e Marca, da Espanha, Clarín e Olé!, da Argentina, La Gazzetta dello Sport, da Itália, A Bola, de Portugal, e The New York Times, dos Estados Unidos.

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