Monday, July 07, 2008

Festa miada de Abigail

Não se engane. Se o guia de fim de semana da sua revista ou jornal trazem boas recomendações sobre um filme ou peça, desconfie. Parece uma lição boba, mas quem sempre acompanha o circuito cultural paulista vive caindo nessas armadilhas. Na sexta-feira foi a minha vez. Os guias de "Veja São Paulo" e "Folha" traziam quatro estrelas para o espetáculo Festa de Abigail, texto do dramaturgo e cineasta inglês Mike Leigh, que também assina a trilha sonora.

Pois bem, esse mesmo espetáculo ganhou o festival de teatro da Cultura Inglesa no ano passado e desde então não saiu mais de cartaz. Do teatro da Cultura Inglesa, em Pinheiros, foi para o Procópio Ferreira, de onde saiu na última sexta-feira para cumprir mais algumas semanas de temporada no teatro Augusta. Diante de tantas evidências, ingenuamente achei que Festa de Abigail era realmente um bom espetáculo, já que é escrito pelo diretor dos filmes Segredos e Mentiras (1996), Agora ou Nunca (2002) e Vera Drake (2004). Não era.

A direção e produção de Mauro Baptista Vedia são impecáveis. A cenografia e o figurino são muito fiéis e a composição dos personagens exigiu muito do elenco, que está muito caricata e convincente na crítica social dos costumes da classe média inglesa a que se propõe o texto. Mas é exatamente no texto que está o problema da peça.

A história é a de um casal de classe média, Berverly e Lawrence, que convida os dois novos moradores da rua para um momento de descontração. Aquela velha fábula da política da boa vizinhança.

Na casa ao lado mora Susan, uma mulher separada do marido e com uma filha de nome Abigail, uma adolescente londrina que só quer saber de rock and roll e dos amigos, como qualquer adolescente da mesma idade.

A menina resolve fazer uma festa e expulsa a mãe de casa para receber os amigos. À Susan resta apenas ir ao encontro dos outros dois casais na casa ao lado. Ninguém ali se conhecia de verdade e até o papo engatar já se passaram pelo menos 40 minutos de espetáculo. Tempo suficiente para irritar qualquer um com idade inferior a 30 anos, que é o meu caso ainda, e com ao menos dos neurônios para brincar de ping-pong. O diálogo entre os personagens parece eterno. O intervalo entre a pergunta e a resposta dos personagens é de no mínimo 20 segundos, o que vai elevando ainda mais a irritação, já que a voz de pelo menos duas personagens femininas é estridente ao ponto de deixar qualquer ouvinte ao ponto de subir ao palco e dar uns tapas na cara de cada uma delas.

Embora esse intervalo entre os diálogos seja estratégico do texto para revelar toda a ambigüidade das falas e o perfil psicológico dos personagens estimulados pela bebida, o texto de Mike Leigh soa aos ouvidos como repetição de uma mesma nota. A peça foi escrita em 1977. Desde então, muito já se viu e ouviu sobre as mazelas da classe média nesses trinta anos. As situações são repetitivas e presentes em qualquer adaptação de Molière. Pra você que pode achar pretensioso falar de Molière, basta assistir até mesmo os filmes de Mike Leigh para ver que Festa de Abigail não traz nada de novo para a crítica de costumes.

O elenco de veteranos balzaquianos Fernanda Couto, Ana Andreatta, Ester Laccava, Marcos Cesana e Eduardo Estrela evitam aquilo que seria uma tragédia do ponto de vista da dramaturgia. Tanto que mais de 12 mil pessoas já foram ver o espetáculo. De certo algo de bom elas viram.

A explicação mais plausível para esse fenômeno de público é mesmo a identificação com os personagens. É a velha máxima do filme que você mais gosta: certamente já viu trinta vezes e terá disposição de ver a 31ª vez. Comigo não cola.

Em resumo, Festa de Abigail é o evento mais furado para um final de semana. É pior que aquela festa na casa da tia-avó solteirona. Dois cometas e um caroço de azeitona.

5 comments:

Anonymous said...

Concordo, conferi a peça sabado passado e confesso, arrependi> Meu marido ficou super irritado que preferiu dormir, dormir mesmo de roncar alto.
Nós fomos pois cofiamos na vejinha, eu só queria saber quais os criterios que essa revista usa pra definir se uma peça é boa ou nao! Alem te tanta bebida tinha tbm o cigarro a toda hora e os charutos. Odiei e me senti enganada.
Angelita Maia / Sorocaba SP

Anonymous said...

A maior furada. Um verdadeiro lixo, uma perda de tempo. Me senti enganada ple critica da Vejinha e do Guia da Folha. Nunca mais vou ao teatro no Brasil.

Anonymous said...

NAO ENTENDO... QUE LIXO....FUJA AMIGO..!!

Anonymous said...

após comprar o ingresso, e poucas horas antes de ir ver o espetáculo vim dar uma checada na internet para verificar se havia algum comentário sobre tal peça, e encontrei este site. Ao término da peça conclui que não havia melhor definição da peça do que a dada pelo autor do blog "uma visita à casa de uma tia-avó". Das peças que fui essa foi a pior de todas, aliás, todas as outras estão em um patamar muito mais elevado do que a desta peça. Fico indignado como a folhinha, instrumento de informação muito conhecido por nós tenha nos indicado assistir a tal infeliz peça. É isto. Quem ainda não foi, não vá. Estará poupando horas e um belo de um dim-dim que pode ser gastado com coisas muito melhores.

Anonymous said...

Absurdo! Os cinquenta reais mais mal gastos da minha vida! Confiei na veja sp, as dez melhores, fiquei indignada. Não é que é ruim, mas é MUITO ruim. A história meio que sem pé nem cabeça com atuações exageradas, sem a mínima graça, e o pior, foi unânime. Fiquei tão surpresa pela pessima qualidade que cheguei a duvidar do meu bom gosto, contudo, na fila do estacionamento, pude ouvir os comentários e entender que a minha opinião era a mesma de todas as outras pessoas. Escutei uma senhora, que tinha por volta dos 60 anos, afirmando que foi o pior espetáculo que assistiu na vida. Todos indignados pela votação da veja sp como uma das dez melhores.
Bom, o intuito de me dar ao trabalho de vir comentar aqui, é poupar outras pessoas que possam cair na mesma cilada que eu, não o façam!