Sunday, February 15, 2009

Berlim: vitrine do mundo


É com muita satisfação que recebo a notícia de que um filme PERUANO (atenção: eu disse PERUANO) sagrou-se grande campeão do Festival de Cinema de Berlim este ano. "La Teta Asustada", da diretora Claudia Llosa, é o primeiro título do país a participar da mostra competitiva do festival e, de cara, já faturou o prêmio da crítica internacional.

Falar em "cinema peruano" é uma surpresa muito agradável, já que pouquíssimo se ouve falar do Peru no mundo. Se um país inteiro não é notícia, o que dirá seu cinema. Entretanto, não me assusta uma indústria tão nova como a peruana ser premiada. Se olharmos o histórico dos últimos vencedores de Berlim, veremos que as produções premiadas nas mais recentes edições coroam justamente esses "novos pólos" de produção cinematográfica.

No ano passado, o filme vencedor foi "Tropa de Elite", do brasileiro José Padilha. O prêmio para o diretor brazuca corou uma fase da retomada do cinema brasileiro, que começou lá atrás, também em Berlim, com "Central do Brasil" (vencedor do Festival de 1998) . O prêmio para o diretor Walter Salles daquele ano deu novo fôlego ao cinema brasileiro, que entrou numa fase espetacular de produção, de onde saíram filhotes como "Cidade de Deus", "Cinema, aspirinas e urubus", "Anjos do Sol", "O céu de Suely", "A casa de Alice", "O ano em que meus pais saíram de férias", entre tantos outros.

Podemos dizer que "Central do Brasil" foi quem deu o pontapé inicial para a nova fase de produções nacionais. O resultado final da peleja iniciada em 1998 foi justamente o "Urso de Ouro" para "Tropa de Elite", ano passado. O segundo prêmio brasileiro na década elevou o Brasil a um novo patamar do mapa mundial de produções cinematográficas. O prêmio coincide com a "Palma de Ouro" de melhor atriz para a brasileira Sandra Corvelloni, de "Linha de Passe", e com a elevação de diretores como Fernando Meirelles e os próprios Walter Salles e José Padilha a "emergentes do cinema".

O "Ensaio sobre a Cegueira" de Meirelles ou mesmo o "Diário de Motocicletas", de Salles, são provas de que os diretores tupiniquins já figuram no olimpo de cineastas, digamos, "globais" (global aqui é de globalização, tá?!).

A tragetória de ascensão do cinema brazuca passa necessariamente por Berlim. O festival de cinema alemão é, na minha singela opinião, o atual centro mundial do cinema. Berlim dita tendências e identifica o que realmente há de melhor no cinema fora do eixo USA-Reino Unido.

Os últimos vencedores de Berlim foram os seguintes:

2009 - La Teta Asustada (Peru)

2008 - Tropa de Elite (Brasil)

2007 - Tuyas Ehe (República Popular da China)

2006 - Esmas Geheimnis – Grbavica (Bósnia, Herzegovina, Áustria, Alemanha e Croácia)

2005 - U-Carmen e-Khayelitsha (África do Sul)

2004 - Head On (Alemanha e Turquia)


O último filme norte-americano premiado na Alemanha foi em 2000, com "Magnólia", do diretor Paul Thomas Anderson. As novidades trazidas pelo festival alemão ao mundo do cinema transformou até mesmo a indústria hollywoodiana. Se pegarmos os filmes indicados ao "Oscar/Academy Awards" deste ano, veremos que há filmes muito bons que, em outras fases, jamais pisariam no tapete vermelho.

"O curioso caso de Benjamin Button", "Frost/Nixon", "O leitor" e, principalmente, "Slumdog Millionaire" e "Milk" são provas cabais de que o "Oscar" mudou. Se pegarmos os últimos vencedores, nem se fala:

2008 - Onde os fracos não tem vez (irmãos Ethan e Joel Coen)
2007 - Os infiltrados (Martin Scorsese)
2006 - Crash (Paul Haggis)
2005 - Menina de Ouro (Clint Eastwood)

Convenhamos que essa lista de vencedores não é nada parecida com a dos anos anteriores:

2001 - Gladiador (Ridley Scott)
2002 - Uma mente brilhante (Ron Howard)
2003 - Chicago (Rob Marshall)
2004 - O senhor dos anéis (Peter Jackson)

Ano passado a lista de candidatos ao maior oscar era igualmente "cool". "Desejo e Reparação", "Sangue Negro", "Babel" e "Juno" estão muito longe das tragédias românticas como "Titanic" e "Gladiador", também premiadas pela academia.

Para encerrar esse enorme post, a conclusão é que o "Festival de Berlim" é, sem dúvida, a maior vitrine atual do cinema. A mostra costuma premiar o que há de melhor pelo mundo e merece todas as atenções dos cinéfilos. Berlim dá voz a mercados menos favorecidos e, devagar, está conseguindo mudar até o gosto de Hollywood.

Ficamos na torcida para que o cinema peruano possa crescer e aparecer ainda mais para o mundo. Vamos torcer também para que o premiado filme chegue ao Brasil brevemente.

1 comment:

Anonymous said...

"A teta assustada" é um ótimo nome pra pornochanchada dos anos 80...