Tuesday, December 16, 2008

O olhar do próximo

No último dia da aula de inglês poucas pessoas apareceram. Éramos apenas cinco em sala de aula e trocamos os dizeres gringos por fatos cotidianos das nossas vidas, ditos no português mais claro possível. Dividindo a sala de aula todas as terças e quintas-feiras, pouco conhecemos sobre as pessoas que esboçam as primeiras palavras em língua estrangeira ao nosso lado.

Nesse dia parece que todos precisavam soltar os adjetivos engasgados na garganta durante o ano. As pessoas soltaram o verbo e foi uma experiência que se aproximou de uma terapia grupal ou de um encontro dos Alcoólatras  Anônimos. Uma das moças era psicóloga e disse uma frase típica de sessões de terapia: "a gente pode passar a vida inteira em função do olhar do próximo, sem viver a nossa própria vida". Em qualquer outro dia acharia que era mais uma das frases prontas dos inúmeros consultórios da cidade. Mas naquela quinta-feira a frase ecoou, pois vinha de uma mulher que lamentava sinceramente os próprios problemas familiares. Tipo terapia da psicóloga, saca?

Agora, passadas mais de seis horas da manhã sem o sono dar as caras, cheguei a duas conclusões: acho que em 2008 envelheci uns trinta anos em função desse olhar terceirizado.  Quando se convive em círculos intelectuais, projetamos um personagem ideal e passamos a encená-lo involuntariamente. Alguns passam a vida sustentando-o, outros desistem da farsa no meio do caminho, enquanto outros tantos são simplesmente descobertos e taxados de "duas caras" ou "farsante", o que não deixa de ser verdade. 

Mas o algoz também figura como coro da ópera bufa, justamente ocupando o posto de acusador. Ele usa uma máscara preta, que lhe encobre o rosto, enquanto ajusta a corda da forca e dá o sinal da execução. 

A segunda conclusão é a de que nunca mais gasto um tostão em psicólogos. Se eles não conseguem resolver os próprios problemas, como irão nos ajudar com os nossos?

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