No último domingo fui ao cinema para ver o novo filme do diretor Walter Lima Jr., “Os desafinados”. Motivos não me faltavam para ver a produção: Bossa Nova, elenco de estrelas, Rio de Janeiro, Nova York. Pela sinopse do filme pensei que veria uma leitura cinematográfica de “Chega de Saudade”, ótimo de livro Rui Castro sobre a história da Bossa Nova. Me enganei. Ainda bem. Embora o filme faça várias referências a turma de João Gilberto, Tom e Vinícius, “Os desafinados” é o lado dos perdedores, dos anônimos. Como muitos por aí, que não ganharam as páginas de jornais e revistas nesses tempos de efeméride do movimento musical.
A história é a de um grupo de amigos e amantes da música, que sonham em ganhar a América em um momento que a Bossa brasileira é sucesso de público e crítica no Carnegie Hall, em New York, New York. Os músicos até chegam a fazer sucesso, que não passa do trópico do Equador e é ofuscado pelos anos de chumbo.
O diretor Walter Lima Jr recentemente fez relativo sucesso com o filme “O Engenho de Zé Lins do Rego”. Em “Os desafinados” o tom documental também pode ser percebido nas falas de alguns personagens, que tentam explicar o que é e como nasceu a Bossa Nova. Até aí tudo bem. OK. É o mal dos diretores brasileiros. As vezes esse lado histórico-didático nem é tão mal assim, já que toda comunicação de massa vislumbra a massa acrítica também. Principalmente quando tem o dedo da Globo Filmes, como é o caso. De qualquer forma, os erros de Walter Lima estão na horrosa dublagem das cantorias de Cláudia Abreu, que são de assustar e até acho que a voz que aparece durante as apresentações musicais não é da atriz. Outro problema da produção é em relação as idas e vindas cronológicas e as soluções de roteiro dadas para o cruzamento das histórias. A pior delas é o ator Rodrigo Santoro voltando no final da história como gringo, vindo da Europa num inglês sofrível, trazer notícias da mãe morta. Ora, ele nunca tinha estado antes do Rio de Janeiro, como encontraria tão facilmente o bar do Manolo e faria isso justamente numa noite em que todos “Os Desafinados” se reuniram de novo, após trinta anos? Coincidência demais. Como o tom do filme às vezes é metalingüístico, já que há a produção de dois filmes dentro do filme, seria fácil resolver esses imbrólios mais facilmente.
Mas nem só de deslizes e desafinos vive o cinema brasileiro. O filme também tem coisas muito boas. A começar pelo elenco. Ter atores tão homogêneos é algo difícil numa produção, principalmente quando ela mistura atores e cantores na mesma função. Atores que cantam, músicos que interpretam, como é o caso de Jairzinho, aquele do “Balão Mágico”. Ele é um músico de boa qualidade e também mostrou que não desafina (ai meu deus, eu tentei não usar esse trocadilho horrível e idiota de novo) na hora de se lançar frente às câmeras com texto decorado.
Claro que em matéria de interpretação, Rodrigo Santoro, Selton Mello e Cláudia Abreu são os melhores representantes que um diretor pode ter. E eles são perfeitos. Rodrigo Santoro mais ainda. O cara é simplesmente genial! (sem cantar, claro). Me emocionei bastante com “Os Desafinados”. Certamente não será sucesso de público como “Tropa de Elite”, ou “A Grande Família” ou “Se eu fosse você”. Mas o filme de Walter Lima Jr cumpre seu papel de resgate da bossa nova, que não viveu só de sucesso. Viveu também de americanos sugadores de talentos, músicos durangos e muita bebedeira. Vale o ingresso.
Endereço: http://www.osdesafinados.com.br/
Endereço: http://www.osdesafinados.com.br/
1 comment:
Amigão, o "Engenho do Zé Lins" não é do Walter não. É do Vladmir Carvalho. O Walter fez o "Menino de Engenho". É isso. E o blog é uma beleza. Abração
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